terça-feira, 21 de outubro de 2008

Lado

Eu costumava subir até a sala mais alta do castelo com meus retalhos guardados em uma caixa púrpura, e lá eu permanecia costurando e remendando pedaços soltos, uns nos outros, até que o sol roubasse a minha atenção para seus raios que atravessavam o vitral e enchiam a sala de fagulhas rosas. Todos os dias, em dez anos, eu permaneci maravilhada olhando aquela dança que o vento e a luz performavam. E assim que o sino batia, a voz delicada de Gael me convidava para o chá. Era basicamente só aquilo que conseguia me disperçar do mundo de uma cor só que havia me integrado. Descia as escadas calada, e limpava a poeira rosa que me cobria os olhos e a roupa e a alma. Pelo caminho, deixava rastros que iam dançando graciosamente até se dissolverem naquele mundo cinza.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Mais uma de você

Era vermelha, média e gostosa. Tinha os contrastes necessários para ter uma aparência apetitosa assim como tinha os ingredientes contrastadamente certos para ter o gosto certo. O gosto que, curioso, me faz ter saudade dela. Ela não ficou comigo por mais de alguns segundos, não me contou segredos mágicos sobre a sua composição, não fez minha vida mais completa por uma eternidade. Só tocou meus lábios delicadamente, se fazendo completa dona de minha atenção por alguns segundos, deixou a conexão sentir/pensar mais evidente quando percebi que o seu crocante aumentava ainda mais a minha fome, percebi que o seu doce me viciava sutilmente e o seu morango quebrava o que meu paladar já começava a se acostumar. Era uma sintonia perfeita, com suas castanhas rabiscando pontinhos na massa apetitosa que me encantava na perfeição dos seus contornos.

Veio de fora, entrou em mim e completou matematicamente uma parte que não precisava de complemento certo, que só precisava de algum. Ou talvez até nem precisasse. Mais foi ela que levou minha necessidade embora.

E agora ela já não existe visivelmente para mim. Existe por dentro, nas minhas veias, no vai e vem de todos que moram dentro de mim, nos meus pensamentos que esbarram suas arestas pelos seus morangos, nas correntes de água que entram agitadas tentando levar embora qualquer forma errada. Nas correntes de sorrisos que ficaram gravados e que superam a dor quando não ha rostos. Mais o que é a dor? O que são sorrisos? O que são rostos? Não vejo nenhuma dessas três palavras verdadeiramente presentes agora. Apenas sinto o esboço da uma lembrança de alguma coisa, que mais faz ter a certeza de estar escrevendo sobre três coisas que existem.

Mais o que é existir? Minha tortilha, vermelha castanha e branca, pastosa e crocante, adocicada e levemente ácida, existia em minha frente, privou minha visão e alimentou viciosamente minha imaginação incansável quando entrou dentro de mim, e agora é o que? Agora ela é eu?

Mais quem sou eu?

Sou eu, ela? Sou eu, os sorrisos? Sou eu, as dores, os rostos?





Assim acho que não há pecado se eu me sentir um pouquinho você. Você que me deixou por fora e que só fez minha fome de querer saber os porquês das coisas serem como são aumentar...E agora entendo que as coisas são como são, porque eu sou como sou. E que na verdade, ninguém é inteiramente, porque ninguém é o que os outros são. Pelo menos não totalmente. Só uma pequena parte, um pequeno sentimento comum, uma pequena palavra com o mesmo sentido, uma cor com a mesma cor que dois olhos veem. Tão raro isso, ser igual por dentro. E é isso que liga algumas pessoas a algumas pessoas. Será? A força calada e inexpresível de um sentir/pensar gêmeo, que não atrai, mais mantêm...E ai, nossa preguiça vai e joga seu pozinho, afim de não querermos pensar e conversar e entender, que a gente vai aprendendo a ser só a gente, esquecendo que a gente só vai ser alguma coisa de verdade quando a gente for todo mundo.



Você me deixou por fora. Por dentro alguma coisa muito parecida com você e comigo, e com a gente, ainda pulsa, corre, nada, nas veias, nos músculos, na água do meu sangue. Ou talvez não, quem sou eu pra explicar as razões do seu eu dentro de mim não ter ido embora?

Quem sou eu pra dizer que alguma coisa vai embora...

sexta-feira, 25 de julho de 2008

contigo

E de repente uma vontade livre e ousada de não ter mais saudade suscita em meu peito, domina minha cabeça e completa minhas razões. E daí eu vejo que algumas coisas existem por não existir nada. A vontade de ser cheio, de ser, apenas, é tão grande que nasce. A minha saudade só existe porque queria não ser mais uma saudade. Queria você, já perdi o controle dos porquês, já não faz mais sentido, já não tem mais razão. Mais se ainda é, alguma coisa deve ter sido real (ou irreal) o suficiente pra atravessar tanto tempo, tanto espaço.Me confundo nas palavras, já não faço sentido, ele ficou em você.
Não quero que eu esteja em você, por mérito dos meus pensamentos. Quero estar ai porque você quis, e por nada mais. E se você quiser, se só por um segundo o teu sentimento dar as mãos com o meu e eles se casarem porque se descobriram irmãos demais, eu vou prai. Eu vou e, se você quiser, eu fico todo dia. Fico até que o sentido se perca e não queira mais ter vontade de existir. E se você quiser, eu espero. Espero até que o nada que nasceu da morte do sentido seja mãe de uma nova sintonia, de um novo sentimento. E se ainda existir um pouquinho de amor, e se você quiser, eu prometo que não vou embora nunca mais.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Rabisco 01
Fato é que não ando sentindo muitas coisas ultimamente. Se não sinto, não escrevo. Coisa esquisita é a gente, um dia morre de dores, outro morre de felicidade e outro simplesmente não sente nada. Nada, tudo sem nenhum capricho, brilho ou beleza. Um copo é apenas um copo, nessas épocas. E as vezes até menos que isso.
Tenho aqueles pequenos indicadores de coisas boas nos meus dedos. São branquinhos, até um dia atrás, senti que um deles estava pra acontecer. Mais não consigo mais não me importar com as coisas todas. Me cansa.
Acabo voltando ao passado em busca de sentir umas boas e velhas emoções. Sinto saudades, mais não as mesmas de um, dois, três, cinco meses atrás. Hoje é uma saudade quieta, desgastada. Parece que tem medo de sofrer. Bom, não posso culpar ela, já andei tirando o seu descanso por diversas vezes... Vou acabar rasgando isso daqui e indo dormir, não senti nenhuma verdade em todas essas palavras. Mesmo sendo isso o que eu sinto. É como a foto dele, hoje já não mexe muito comigo...Era o que eu temia, estou quase esquecendo. Aliás, quase deixando que mude. Não quero falar disso, já pensei demais, me cansou.
Mais ainda me puno quando vejo que parte de mim ainda não veio pro presente. Grito-a para voltar, mais ela insiste em ser naqueles dias. Acho que é a culpa é dele...Vou para ali, e depois para a cama me deitar e sonhar. Quem sabe amanhã as coisas me façam sentir alguma coisa que as diferencie dos sonhos, porque até agora não consegui separar esses dois mundos...Boa noite, estrela.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Stay where I can see you

Parcialmente tomada por um sono manso, ela se deitou. Cobriu-se até a cabeça, deixando que o ar frio do lado de fora tocasse só a sua face. Fechou os olhos e entrou no seu mundo. E era lá que as suas idéias, seus planos, suas pessoas, suas saudades, seus medos, suas ilusões, suas mudanças, suas dores, suas alegrias, suas lembranças eram guardadas, alimentadas e relembradas quase para sempre. Hoje, ela selecionou as suas saudades, e deixou o seu corpo deitado para ir reviver uma saudade mais presente...
Depois ela se sentiu irreal demais, voltou a abrir os olhos. Queria o presente... Pensou na possível única diferença de ter vivido aquele momento um mês atrás e de viver ele agora, de novo: agora ela o vivia sozinha. E sozinha, os pensamentos aumentavam milhões de vezes, lá e aqui. Sozinha, as chances de um mesmo sentimento se aflorar junto, ao mesmo tempo diminuíam tristemente.
E devagar, meio tímida, meio culpada, ela deixou escapar uma lágrima... Estava afogada em turbilhões de pensamentos... Queria alguma coisa real, queria aquela realidade... De novo.

sábado, 26 de abril de 2008

Anel

Foi uma noite bonita. A lua, tímida, começava a aparecer por entre as nuvens que haviam coberto o céu por longos dias e noites. Algumas pequenas estrelas dançando, começaram a cantar suas músicas inaudíveis por entre o céu. Clarissa, sentada no degrau da escada, encolhia suas pernas de modo a ficarem o mais perto possível do seu peito. Uma leve brisa levantava e arrepiava cada centímetro de sua pele. Um ar carregado de mistério e ao mesmo tempo muito leve, ao ponto de querer carregar Clarissa pelos seus braços.

Diego estava em pé, falando sobre algumas coisas que nem ele sabia se sentia mesmo, mais usando a forma mais convincente de se falar. Clarissa se encantava.

Ela era uma menina diferente. Tinha uma paixão pela conquista, pelos abraços, pelo mistério, pelo encanto. Mas nada que fosse óbvio demais, banal demais ou mesmo rápido demais. Gostava de sonhar...

Ele tinha passado por muitas, e cada uma era um novo aprendizado. No final, ele acabou acertando num jeito de ser que agradasse, que provocasse. Estilo.

"Senta..." ela disse quando a chuva começou a cair da lua. Ele recusou, mais depois, por medo de se molhar, ou por vontade de se aproximar, sentou ao seu lado. Clarissa sorriu. Diego começou a falar, e por vezes ela podia perceber alguns medos escondidos por trás de coragens bem ditas. Olhava pra ele o minímo possivel, perto demais...Ela escutava e as palavras dele iam fazendo uma trilha para dentro dos pensamentos dela.

Deram as mãos por coragem dele, talvez até por experiência. Clarissa tinha uma satisfação secreta quando a barreira física era quebrada, porque ela sentia como se ficasse perto de verdade de alguma coisa real. Ela, já tão acostumada com o abstrato...

Um carinho já menos tenso, encostava nela, fazendo-a arrepiar assim como a brisa. Até um pouco mais.


Ela olhou para seus olhos. Escuros, intensos, misteriosos. Imaginou para quantos olhos ele já havia olhado, quantos sorrisos já havia dado, quantas pessoas já haviam passado por aquela vida ali, perto dela agora. Pensou, com um pouquinho de ciúmes, quantas pessoas já haviam feito aqueles olhos brilharem, e quantos olhos já haviam o feito abrir um sorriso de verdade. Imaginou de quais sorrisos ele ainda não esquecera.

"agora, o presente dele sou eu." pensou...que honra fazer parte do presente dele...! Que vontade de manter aquilo, só aquilo, só aquela magia misturada que o sorriso dele emitia em resposta ao dela. Aquele sorriso charmoso, aquele olhar de "você sabe...". Ela sabia. Ele sabia. Só não ousavam dizer e quebrar com aquele clima. Ele, porque talvez tivesse aprendido muito pouco ainda sobre os sinônimos externos do amor dela, e talvez tivesse medo de voltar pra casa magoado com um não. Ela, porque gostava exatamente do jeito que estava, não precisava de mais, de além...mesmo porque sabia que se fosse além, não haveria mais nada pelo que esperar.



Continuaram de mãos dadas. Ela, sabendo que um dia sentiria falta daquele instante. Ele...nem ele sabia. De alguma forma tinham captado ao menos a metade do sentimento emitido de um para o outro. O que ele pensava, o que os outros já pensaram, o que ele aprendeu, o que o 'obvio' insinuava, fez com que a outra metade do sentimento emitido por ela, se perdesse. Ou melhor: por não ser captado, foi eternizado como parte de toda aquela matéria, de todo aquele ar, de todas aquelas palavras, abraços e sorrisos ditos e sentidos naquele momento.

O mesmo aconteceu com ela, sobre o que ele emitiu.
E ambos emitiram não o que sentiram de verdade, mais sim o que pensavam, o que achavam que o outro pensava, o que já haviam pensado, o que o 'obvio' deixou imposto, o que haviam aprendido. A pureza tinha sido denegrida, e assim uma vibração cheia de máscaras foi emitida, e colocando-se ainda mais um pouco de máscaras, foi captada.

Mais no fundo, em uma pequena parte do movimento feito no ar pela sensação que eles sentiram, o sentimento original estava lá.

Simples vítimas de uma perda de sintonia mundial, eles não se conectaram completamente naquele e mais no outro dia. Porém, no fundo, os dois, nos seus pensamentos, começaram a fazer o conceito de cada sentimento envolvido. Um conceito magicamente não muito contorcido, quase real...

E iam aprofundando as verdades sobre aquelas montanhas de areias em que seus sentimentos se abrigavam, a medida com que o dedo dele acariciava delicadamente a mão dela, enquanto se davam as mãos.











Ela, que já não esquecia fácil as coisas, carregava ele mais um dia dentro dela. Consciente disso. Doia saber que o presente dele já não era mais ela, e que por mais próximo que ela tentasse estar, nunca seria o suficiente. Se já não sabia nem os rumos que os pensamentos dele podiam estar tomando em cada minuto, as pessoas que podiam estar fazendo o coração dele disparar era impossivel de imaginar. O quanto dela permanece nele ainda era a sua pior dúvida. Mais sabia, que de qualquer forma, as suas mãos tinham feito parte da história das mãos dele, que os olhos dele, ainda que talvez não tivesse brilhado de verdade, tinham ao menos enchergado os dela brilharem. E os sorrisos, mesmo congelados em algumas fotos, não perderam o sentido pra ela que olha...e nem pra ele...



Parece tão distante. Ele ainda é presente na vida dela. Ela espera ser de novo, na dele...

Tão confuso. As novas notícias dele parecem tão abstratas, tão irreais. Ele estará sentindo tanto pensamento e tanta lembrança ser revivida aqui por ela?

sexta-feira, 21 de março de 2008

Recomeço

Ela vestia um lindo vestido prata, bordado com pequenas lantejoulas que pareciam carregar dentro de si um pedacinho da irrealidade. Aquela noite, rodeada dos mais diferentes tipos de pessoa, ela brilhava. Brilhava por causa do seu vestido, que sem dúvida refletia todos os feiches de luz que por ele ousavam passar...era como se secretamente ele usasse o próprio feitiço da luz, contra ela..estava apaixonado. Brilhava também, e principalmente, porque naquele exato momento, ela havia sentido, o mais forte possível, a presença ausente de uma lembrança. Ela sorria, encantada, no meio da pista de dança. Fechou seus olhos e só sentiu todas aquelas luzes passando. Mais ela sabia que só uma penetrava no fundo mais verdadeiro da sua alma...só uma entrava...e era a luz dele.

Ele caminhava na rua de volta pra casa. Havia sido uma noite divertida, os amigos, os conhecidos 'como sempre...' lembrava. E chegando perto da porta de entrada, carregando o peso quase imperceptível de uma chave, ele brincava com as poças de água no chão, pintadas com delicados pingos de estrelas...As estrelas fizeram ele lembrar um momento, há quase dois exatos meses. E sem perceber, ele estava admirando o reflexo das estrelas na poça, imerso nas suas próprias lembranças. Imerço nas lembranças dela. Lembrou do que tinha dito e riu...lembrou do sorriso dela quando ouviu o que ele havia dito, e riu. Quase pode sentir aqueles braços tímidos apertando o seu corpo, leves porém intensos, como se não quisesse mais soltar...Lembrou do cheiro dela. E como se rebobinasse rápido uma fita, toda a lembrança que ela deixou, de repente foi passando rápido por entre seus olhos, por entre a poça, por entre as estrelas. Nunca antes daquela hora, ele havia sentido tanto a falta dela, nunca havia parado para entender o quanto aquelas memórias marcaram. Antes, cada pedacinho das coisas que aconteceram com ela, voltavam silenciosos e brotavam a alegria dentro dele. E ele, sem entender, só sentia e deixava passar... Mais agora ele sentiu, ele entendeu: estava carregando ela junto dele há muito mais tempo do que pensava. Entrou em casa, sorriu e disse alguma coisa pra sua mãe...deixou a chave na bancada, passou a mão no cabelo, como se quisesse afastar um pouco todo aquele turbilhão de emoções...
Entrou no quarto, tirou o tênis com o próprio pé e se jogou na cama, pensando nela.

Ela só ouvia bem ao fundo, uma música animada que fazia alguns corpos se mexerem desajeitados. Gargalhou quando não entendeu a finalidade de tantas pessoas se juntarem para mexerem seus corpos ao som de alguma coisa. Riu, porque era divertido, porque ela não se importava de não entender. Riu, porque ele estava lá. Ela sentia... Correu para onde ela achava que podia se isolar um pouco de todos e sentir aquela saudade apertada sozinha. Ou melhor: com ele.
Do lado de fora, ela olhou pro céu e viu um céu brilhante, salpicado de estrelas pulsantes. Aquilo agora mais do que nunca, derramou uma esperança tremendamente intensa dentro do coração dela. Eles iam se ver de novo, estava chegando...

...

quarta-feira, 12 de março de 2008

Imã

Foi de tanto pensar nele, foi de tanto entrar nas lembranças que ele deixou, que ela acabou cansada. Transcorrer no tempo, cansa. Ela, que já não vivia mais apenas aqui, entendia com uma gotinha de desespero, que se não parasse de deixar seu corpo aqui e ir sentir lá (com ele) ela ia acabar se arrependendo depois. Porque era a vida. Não pára pra qualquer capricho dos pensamentos. E aí, e se ela se acostumasse a voar lá e só lá? Quem é que ia trazer ela de volta pro corpo, se o único que tinha tido essa capacidade -de fazer ela voar- tinha sido ele? E ele estava lá. Ela queria lá, lá era mais bonito (porque ele estava lá).
E teve uma noite que ele pareceu voar pra ela aqui. Mais ela estava cansada de ficar deduzindo, rabiscando hipoteses e explicações...queria presente. Afastou o que não era. Não importava mais o que tinha falado, ela acreditava (mesmo) que o que aconteceu não tinha 'sido' só pra ela. Tinha algo a mais (também pra ele). E como ela acreditava, lá ele se assustava lembrando dela no meio de um dia chuvoso...
'Agora deixa o tempo andar, não pensa nisso mais, as coisas vão se encaixar...só espera, só vive'



Segunda-feira sonolenta, num cantinho de um papel, num cantinho de uma sala (aqui), ela rabisca "05 s2...". E ri, taí uma coisa que só ela entende.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Time to change.

Um escritor famoso me desejou o esquecimento como presente de ano novo. E por um período considerável de tempo eu me peguei contestando isso. Contestando o porquê de esquecermos as coisas se são elas que afinal constroem a nossa vida.E dai fui eu me lembrar. Me lembrei da infância, das bolachas, dos desenhos animados, dos domingos, das brincadeiras, dos amigos...Senti uma saudade quando eu vi que antes era tudo tão mais fácil, tudo mais divertido, e se não era, pelo menos eu me importava menos, eu vivia mais.Minha memória seletivamente pulou para alguns anos atrás. Os amigos que hoje são estranhos, as palavras que hoje não passam de rabiscos, as fotos que hoje levaram consigo um laço de amor invisível. Me lembro de pessoas que passaram por mim e que não fazem uma nítida idéia de quanto são, ou foram, essenciais na construção da minha historia, de quem eu sou hoje. Me lembro de quem nem lembra mais de mim. Me lembro de palavras ditas ao acaso, que por vezes me confortam de uma insônia incômoda. Me lembro de tanta coisa e ao mesmo tempo me lembro de tão pouca coisa... onde será que ficou guardado a lembrança de um sábado chuvoso e sem graça, onde eu não fiz nada de especial, não conheci ninguém especial e não li nada de importante?E por que esse sábado foi menos importante pra não ser lembrado? Só os grandes momentos vão ficar indo e vindo quando eu chamar pelo passado?Não, não...ele continua aqui, guardado. Talvez ele não seja lembrado por mim toda hora, mais com certeza estará dentro de mim toda hora. Como prova de um passado, como prova de um presente, como um capítulo, um caminho de uma história.Penso, com um pouco de medo, confesso, o que será das fotos que eu tirei hoje com os amigos que eu queria sempre do meu lado. Me pergunto quais desses juramentos vão virar palavras sem sentido, quais desses melhores amigos vão se tornar estranhos, e principalmente, quais dessas memórias eu vou me lembrar.Fazemos hoje os filmes de nostalgia de amanha.E quando gastamos tempo lembrando o passado, o presente deixa de ser vivido e consequentemente o futuro vai ter uma lembrança a menos.Ele estava certo. O esquecimento, não completo, temporário, é o presente que deveríamos desejar pra todos. Como sinal de 'liberte-se de ontem e viva o hoje'.E agora eu percebo de quais tipos de esquecimento ele também se referia. O passado que doeu, fez sofrer, mais que fez crescer. Mais é como um livro, um capítulo que foi importante pra revelação no final não precisa ser relido uma vez que a pessoa já entendeu a essência e o sentido da sua existência ali. Portanto, o que passou, passou e sem aquilo definitivamente você não seria quem você é hoje. Não do mesmo jeito.E então, que o esquecimento tome conte das nossas cabeças nesse novo ano e que novos e maravilhosos acontecimentos encham o nosso presente e façam o futuro com as melhores lembranças de hoje. E, se for evitável, não caia na rotina. Faça com que cada dia tenha a sua própria cor e que brilhe mesmo com os menores acontecimentos, porque afinal eles são o caminho para os grandes...

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

When you get what you want but not what you need

Eu não queria colocar as palavras
De forma que elas se juntassem harmonicamente
E deixassem isso belo.

Porque o que eu sinto é dor
Não é nada, nada
Belo.
Você monopolizou meus sentidos
Comeu minha fome
Respirou meu ar
Bateu meu coração
Fez deixar de
Funcionar

Seu cheiro penetrava cada milímetro do ar sem cor
Deixava tudo
Almofadas
Abraços
Lugares
Tímidos, porque era o seu perfume

Onde, não sendo nos dois pacotes
Você ficou preso em mim?
Era o seu cheiro
Era o seu jeito
Era o seu sorriso
Seu beijo
Que eu sabia que me faria perder a fome, o ar
Que me faria tentar fazer tudo
Planejadamente natural
Que iria me viciar

Eu devia não gostar
Você é uma farsa
Ou só um artista
Ou só um homem

Me fez sorrir
Me fez chorar
Me fez feliz até sem perceber
Por um momento

E se não era pra durar
Me pergunto então
Por que foi?

Mas me deram as perguntas sem respostas
Eu devo encontrar o conhecimento
Reservado por Ele na busca pelas respostas
Na busca pelo por que
Os homens ouvem
E eu falo,
Eles falam.

Às vezes foi porque
Todo poeta tenha que ter
Os seus versos de amor
Esse foi o meu
Primeiro
Beijo.

Mas me arrisco a dizer
Que se não tivesse me feito chorar
Eu desistiria de ser poeta
Desistiria do meu verso de amor
Pra ter o dono do
Sorriso que me encantou
O dono do perfume que me viciou
Dono da minha lembrança
Dono da primeira posição da lista
Dono do poder
De me fazer rir e
Chorar
Sem sequer desejar
Por um segundo
Você longe de mim

Eu
Dona do coração vulnerável
Por você

Eu
Sinto dor

Eu sinto a falta
Do que foi
E do que não foi
Do que era pra ter sido com você
De você

e...
tudo aqui vem acompanhado de você
...u te am
o, ei
mude o final, eu posso tirar o teu medo
lá de fora eu vou ficar com você
faz ter valido,
coração.

vou fingindo ser o que eu já sou

Minha foto
"O melhor drama está no espectador e não no palco."