sexta-feira, 21 de março de 2008

Recomeço

Ela vestia um lindo vestido prata, bordado com pequenas lantejoulas que pareciam carregar dentro de si um pedacinho da irrealidade. Aquela noite, rodeada dos mais diferentes tipos de pessoa, ela brilhava. Brilhava por causa do seu vestido, que sem dúvida refletia todos os feiches de luz que por ele ousavam passar...era como se secretamente ele usasse o próprio feitiço da luz, contra ela..estava apaixonado. Brilhava também, e principalmente, porque naquele exato momento, ela havia sentido, o mais forte possível, a presença ausente de uma lembrança. Ela sorria, encantada, no meio da pista de dança. Fechou seus olhos e só sentiu todas aquelas luzes passando. Mais ela sabia que só uma penetrava no fundo mais verdadeiro da sua alma...só uma entrava...e era a luz dele.

Ele caminhava na rua de volta pra casa. Havia sido uma noite divertida, os amigos, os conhecidos 'como sempre...' lembrava. E chegando perto da porta de entrada, carregando o peso quase imperceptível de uma chave, ele brincava com as poças de água no chão, pintadas com delicados pingos de estrelas...As estrelas fizeram ele lembrar um momento, há quase dois exatos meses. E sem perceber, ele estava admirando o reflexo das estrelas na poça, imerso nas suas próprias lembranças. Imerço nas lembranças dela. Lembrou do que tinha dito e riu...lembrou do sorriso dela quando ouviu o que ele havia dito, e riu. Quase pode sentir aqueles braços tímidos apertando o seu corpo, leves porém intensos, como se não quisesse mais soltar...Lembrou do cheiro dela. E como se rebobinasse rápido uma fita, toda a lembrança que ela deixou, de repente foi passando rápido por entre seus olhos, por entre a poça, por entre as estrelas. Nunca antes daquela hora, ele havia sentido tanto a falta dela, nunca havia parado para entender o quanto aquelas memórias marcaram. Antes, cada pedacinho das coisas que aconteceram com ela, voltavam silenciosos e brotavam a alegria dentro dele. E ele, sem entender, só sentia e deixava passar... Mais agora ele sentiu, ele entendeu: estava carregando ela junto dele há muito mais tempo do que pensava. Entrou em casa, sorriu e disse alguma coisa pra sua mãe...deixou a chave na bancada, passou a mão no cabelo, como se quisesse afastar um pouco todo aquele turbilhão de emoções...
Entrou no quarto, tirou o tênis com o próprio pé e se jogou na cama, pensando nela.

Ela só ouvia bem ao fundo, uma música animada que fazia alguns corpos se mexerem desajeitados. Gargalhou quando não entendeu a finalidade de tantas pessoas se juntarem para mexerem seus corpos ao som de alguma coisa. Riu, porque era divertido, porque ela não se importava de não entender. Riu, porque ele estava lá. Ela sentia... Correu para onde ela achava que podia se isolar um pouco de todos e sentir aquela saudade apertada sozinha. Ou melhor: com ele.
Do lado de fora, ela olhou pro céu e viu um céu brilhante, salpicado de estrelas pulsantes. Aquilo agora mais do que nunca, derramou uma esperança tremendamente intensa dentro do coração dela. Eles iam se ver de novo, estava chegando...

...

quarta-feira, 12 de março de 2008

Imã

Foi de tanto pensar nele, foi de tanto entrar nas lembranças que ele deixou, que ela acabou cansada. Transcorrer no tempo, cansa. Ela, que já não vivia mais apenas aqui, entendia com uma gotinha de desespero, que se não parasse de deixar seu corpo aqui e ir sentir lá (com ele) ela ia acabar se arrependendo depois. Porque era a vida. Não pára pra qualquer capricho dos pensamentos. E aí, e se ela se acostumasse a voar lá e só lá? Quem é que ia trazer ela de volta pro corpo, se o único que tinha tido essa capacidade -de fazer ela voar- tinha sido ele? E ele estava lá. Ela queria lá, lá era mais bonito (porque ele estava lá).
E teve uma noite que ele pareceu voar pra ela aqui. Mais ela estava cansada de ficar deduzindo, rabiscando hipoteses e explicações...queria presente. Afastou o que não era. Não importava mais o que tinha falado, ela acreditava (mesmo) que o que aconteceu não tinha 'sido' só pra ela. Tinha algo a mais (também pra ele). E como ela acreditava, lá ele se assustava lembrando dela no meio de um dia chuvoso...
'Agora deixa o tempo andar, não pensa nisso mais, as coisas vão se encaixar...só espera, só vive'



Segunda-feira sonolenta, num cantinho de um papel, num cantinho de uma sala (aqui), ela rabisca "05 s2...". E ri, taí uma coisa que só ela entende.

vou fingindo ser o que eu já sou

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"O melhor drama está no espectador e não no palco."