Ela vestia um lindo vestido prata, bordado com pequenas lantejoulas que pareciam carregar dentro de si um pedacinho da irrealidade. Aquela noite, rodeada dos mais diferentes tipos de pessoa, ela brilhava. Brilhava por causa do seu vestido, que sem dúvida refletia todos os feiches de luz que por ele ousavam passar...era como se secretamente ele usasse o próprio feitiço da luz, contra ela..estava apaixonado. Brilhava também, e principalmente, porque naquele exato momento, ela havia sentido, o mais forte possível, a presença ausente de uma lembrança. Ela sorria, encantada, no meio da pista de dança. Fechou seus olhos e só sentiu todas aquelas luzes passando. Mais ela sabia que só uma penetrava no fundo mais verdadeiro da sua alma...só uma entrava...e era a luz dele.
Ele caminhava na rua de volta pra casa. Havia sido uma noite divertida, os amigos, os conhecidos 'como sempre...' lembrava. E chegando perto da porta de entrada, carregando o peso quase imperceptível de uma chave, ele brincava com as poças de água no chão, pintadas com delicados pingos de estrelas...As estrelas fizeram ele lembrar um momento, há quase dois exatos meses. E sem perceber, ele estava admirando o reflexo das estrelas na poça, imerso nas suas próprias lembranças. Imerço nas lembranças dela. Lembrou do que tinha dito e riu...lembrou do sorriso dela quando ouviu o que ele havia dito, e riu. Quase pode sentir aqueles braços tímidos apertando o seu corpo, leves porém intensos, como se não quisesse mais soltar...Lembrou do cheiro dela. E como se rebobinasse rápido uma fita, toda a lembrança que ela deixou, de repente foi passando rápido por entre seus olhos, por entre a poça, por entre as estrelas. Nunca antes daquela hora, ele havia sentido tanto a falta dela, nunca havia parado para entender o quanto aquelas memórias marcaram. Antes, cada pedacinho das coisas que aconteceram com ela, voltavam silenciosos e brotavam a alegria dentro dele. E ele, sem entender, só sentia e deixava passar... Mais agora ele sentiu, ele entendeu: estava carregando ela junto dele há muito mais tempo do que pensava. Entrou em casa, sorriu e disse alguma coisa pra sua mãe...deixou a chave na bancada, passou a mão no cabelo, como se quisesse afastar um pouco todo aquele turbilhão de emoções...
Entrou no quarto, tirou o tênis com o próprio pé e se jogou na cama, pensando nela.
Ela só ouvia bem ao fundo, uma música animada que fazia alguns corpos se mexerem desajeitados. Gargalhou quando não entendeu a finalidade de tantas pessoas se juntarem para mexerem seus corpos ao som de alguma coisa. Riu, porque era divertido, porque ela não se importava de não entender. Riu, porque ele estava lá. Ela sentia... Correu para onde ela achava que podia se isolar um pouco de todos e sentir aquela saudade apertada sozinha. Ou melhor: com ele.
Do lado de fora, ela olhou pro céu e viu um céu brilhante, salpicado de estrelas pulsantes. Aquilo agora mais do que nunca, derramou uma esperança tremendamente intensa dentro do coração dela. Eles iam se ver de novo, estava chegando...
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