sábado, 26 de abril de 2008

Anel

Foi uma noite bonita. A lua, tímida, começava a aparecer por entre as nuvens que haviam coberto o céu por longos dias e noites. Algumas pequenas estrelas dançando, começaram a cantar suas músicas inaudíveis por entre o céu. Clarissa, sentada no degrau da escada, encolhia suas pernas de modo a ficarem o mais perto possível do seu peito. Uma leve brisa levantava e arrepiava cada centímetro de sua pele. Um ar carregado de mistério e ao mesmo tempo muito leve, ao ponto de querer carregar Clarissa pelos seus braços.

Diego estava em pé, falando sobre algumas coisas que nem ele sabia se sentia mesmo, mais usando a forma mais convincente de se falar. Clarissa se encantava.

Ela era uma menina diferente. Tinha uma paixão pela conquista, pelos abraços, pelo mistério, pelo encanto. Mas nada que fosse óbvio demais, banal demais ou mesmo rápido demais. Gostava de sonhar...

Ele tinha passado por muitas, e cada uma era um novo aprendizado. No final, ele acabou acertando num jeito de ser que agradasse, que provocasse. Estilo.

"Senta..." ela disse quando a chuva começou a cair da lua. Ele recusou, mais depois, por medo de se molhar, ou por vontade de se aproximar, sentou ao seu lado. Clarissa sorriu. Diego começou a falar, e por vezes ela podia perceber alguns medos escondidos por trás de coragens bem ditas. Olhava pra ele o minímo possivel, perto demais...Ela escutava e as palavras dele iam fazendo uma trilha para dentro dos pensamentos dela.

Deram as mãos por coragem dele, talvez até por experiência. Clarissa tinha uma satisfação secreta quando a barreira física era quebrada, porque ela sentia como se ficasse perto de verdade de alguma coisa real. Ela, já tão acostumada com o abstrato...

Um carinho já menos tenso, encostava nela, fazendo-a arrepiar assim como a brisa. Até um pouco mais.


Ela olhou para seus olhos. Escuros, intensos, misteriosos. Imaginou para quantos olhos ele já havia olhado, quantos sorrisos já havia dado, quantas pessoas já haviam passado por aquela vida ali, perto dela agora. Pensou, com um pouquinho de ciúmes, quantas pessoas já haviam feito aqueles olhos brilharem, e quantos olhos já haviam o feito abrir um sorriso de verdade. Imaginou de quais sorrisos ele ainda não esquecera.

"agora, o presente dele sou eu." pensou...que honra fazer parte do presente dele...! Que vontade de manter aquilo, só aquilo, só aquela magia misturada que o sorriso dele emitia em resposta ao dela. Aquele sorriso charmoso, aquele olhar de "você sabe...". Ela sabia. Ele sabia. Só não ousavam dizer e quebrar com aquele clima. Ele, porque talvez tivesse aprendido muito pouco ainda sobre os sinônimos externos do amor dela, e talvez tivesse medo de voltar pra casa magoado com um não. Ela, porque gostava exatamente do jeito que estava, não precisava de mais, de além...mesmo porque sabia que se fosse além, não haveria mais nada pelo que esperar.



Continuaram de mãos dadas. Ela, sabendo que um dia sentiria falta daquele instante. Ele...nem ele sabia. De alguma forma tinham captado ao menos a metade do sentimento emitido de um para o outro. O que ele pensava, o que os outros já pensaram, o que ele aprendeu, o que o 'obvio' insinuava, fez com que a outra metade do sentimento emitido por ela, se perdesse. Ou melhor: por não ser captado, foi eternizado como parte de toda aquela matéria, de todo aquele ar, de todas aquelas palavras, abraços e sorrisos ditos e sentidos naquele momento.

O mesmo aconteceu com ela, sobre o que ele emitiu.
E ambos emitiram não o que sentiram de verdade, mais sim o que pensavam, o que achavam que o outro pensava, o que já haviam pensado, o que o 'obvio' deixou imposto, o que haviam aprendido. A pureza tinha sido denegrida, e assim uma vibração cheia de máscaras foi emitida, e colocando-se ainda mais um pouco de máscaras, foi captada.

Mais no fundo, em uma pequena parte do movimento feito no ar pela sensação que eles sentiram, o sentimento original estava lá.

Simples vítimas de uma perda de sintonia mundial, eles não se conectaram completamente naquele e mais no outro dia. Porém, no fundo, os dois, nos seus pensamentos, começaram a fazer o conceito de cada sentimento envolvido. Um conceito magicamente não muito contorcido, quase real...

E iam aprofundando as verdades sobre aquelas montanhas de areias em que seus sentimentos se abrigavam, a medida com que o dedo dele acariciava delicadamente a mão dela, enquanto se davam as mãos.











Ela, que já não esquecia fácil as coisas, carregava ele mais um dia dentro dela. Consciente disso. Doia saber que o presente dele já não era mais ela, e que por mais próximo que ela tentasse estar, nunca seria o suficiente. Se já não sabia nem os rumos que os pensamentos dele podiam estar tomando em cada minuto, as pessoas que podiam estar fazendo o coração dele disparar era impossivel de imaginar. O quanto dela permanece nele ainda era a sua pior dúvida. Mais sabia, que de qualquer forma, as suas mãos tinham feito parte da história das mãos dele, que os olhos dele, ainda que talvez não tivesse brilhado de verdade, tinham ao menos enchergado os dela brilharem. E os sorrisos, mesmo congelados em algumas fotos, não perderam o sentido pra ela que olha...e nem pra ele...



Parece tão distante. Ele ainda é presente na vida dela. Ela espera ser de novo, na dele...

Tão confuso. As novas notícias dele parecem tão abstratas, tão irreais. Ele estará sentindo tanto pensamento e tanta lembrança ser revivida aqui por ela?

vou fingindo ser o que eu já sou

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"O melhor drama está no espectador e não no palco."