quinta-feira, 20 de agosto de 2009

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Meus pulmões se purificaram de alegria quando receberam no seu interior uma leva daquele ar fresco. Meus pensamentos se multiplicavam em turbilhões. O sol quente tocava minha pele coberta por trapos rasgados. Carros, pessoas e idéias se aglutinavam em minha cabeça como se o tempo depositasse na curva de minha mente todos os muitos sentimentos soltos pelas cabeças passantes.
Andei até uma mulher de longos cabelos ruivos e olhos azuis. Parei ao seu lado como se ouvisse o que ela gritava. Ela me olhou, ofendida. Seus olhos se fundiram em lágrimas e engasgada me disse “O que faz aqui?”. E de repente eu já não a via, os seus medos eu já não conseguia mais ouvir e aquela frase entrou consciente em meus neurônios conscientes e me fez sorrir. Foquei em seus olhos perdidos de novo, puxei-a pela mão e corri para as escadas que parávamos em frente.
Ela me seguia, carregando aqueles olhos curiosos. Subimos tanto que sua respiração quis falhar. Seus olhos alegres piscavam sem ritmo. De lá de cima ela via o céu azul límpido. Eu via seus olhos tristes. E a cada pássaro que voava sobre nossas cabeças eu via seus olhos mudarem de modo, de cor e de palavras.
E então passou um bando de andorinhas e eu entendi. Eu vi tudo dentro daqueles olhos, e a sua eternidade imensamente perturbadora me fez entender cada pequeno tudo dentro de mim e dentro da vida grande que me rodeava, me tocava, me cheirava, me sentia, me afogava.
Soltei sua mão e lhe disse com toda a verdade dentro de mim “Lindos olhos.”. O segundo que antecedeu seu sorriso me contou todos os adjetivos que eu iria sentir em meu futuro. E assim aconteceu. Seu sorriso brilhante me despediu daquela imensidão de mundos e me levou de volta às minhas linhas em branco.
Corri até o fim do prédio e o começo do céu. Corri até o começo de um beija-flor e o fim das asas. Corri até o começo da distância e o fim do tempo. Corri para dentro. Corri demais. Ele conseguiu, pensei, enquanto corria pouco, só se esqueceu que homens perfeitos não precisam existir. Voei.

vou fingindo ser o que eu já sou

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"O melhor drama está no espectador e não no palco."