terça-feira, 21 de outubro de 2008

Lado

Eu costumava subir até a sala mais alta do castelo com meus retalhos guardados em uma caixa púrpura, e lá eu permanecia costurando e remendando pedaços soltos, uns nos outros, até que o sol roubasse a minha atenção para seus raios que atravessavam o vitral e enchiam a sala de fagulhas rosas. Todos os dias, em dez anos, eu permaneci maravilhada olhando aquela dança que o vento e a luz performavam. E assim que o sino batia, a voz delicada de Gael me convidava para o chá. Era basicamente só aquilo que conseguia me disperçar do mundo de uma cor só que havia me integrado. Descia as escadas calada, e limpava a poeira rosa que me cobria os olhos e a roupa e a alma. Pelo caminho, deixava rastros que iam dançando graciosamente até se dissolverem naquele mundo cinza.

Um comentário:

.h disse...

Gostei desse texto. É uma cena muito bem descrita. Conseguiu me convencer da "mágica" do momento (mesmo que eu ainda fique imaginando se é mágica no sentido literal ou figurativo. Talvez seja essa a beleza do texto).

Ficou bem legal mesmo.

vou fingindo ser o que eu já sou

Minha foto
"O melhor drama está no espectador e não no palco."