Wanderlust
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
"There is no agony like bearing an untold story inside you."
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Frequência
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
Scent
Era madrugada e o quarto cheirava lírios. Luis sentava na cama em frente a Letícia, que quase chegava a sentir o cheiro que ele exalava. Algo entre flores e bebida. Cerveja. Das mais baratas.
Uma leve neblina encobria o redor, e era exatamente em volta de sua aura que o limite entre o ar puro e aquela fumaça toda se definia. Não diziam nada por medo talvez de afetar aquela sintonia, aquele equilíbrio absurdo que tinha se instaurado desde o momento
Tinha sido a mais de oito anos desde a última vez que tinham se encontrado. Nada naquele rosto arredondado de Luis havia mudado. Se acentuado talvez. Os seus negros cabelos agora tiniam um preto carvão de doer os olhos. Sua pele morena, café com leite, estava agora mais definida, no meio exato entre a claridade e a escuridão. Seus olhos verdes, mais verdes do que nunca, pareciam ter roubado o brilho de uma esmeralda, ou talvez passado a noite sobre o orvalho de um pingo de ouro. Reluziam, refletiam.
- Não voltei por você – suas palavras produziam ondas, fazendo dançar a fumaça do incenso que queimava incessantemente.
- Eu sei.
- Não senti sua falta e mal me lembrava de como sua voz soava.
- Entendo.
Os cabelos dela haviam crescido, agora loiros dourados, sua pele escurecida pelo tempo nas férias de Janeiro, seu sorriso meio amarelado e meio desalinhado, havia encontrado um jeito charmoso de se agrupar. Calada, ela não se surpreenderia se ele não lembrasse nem como ela era.
- Conheci a África, parei de fumar, me casei, quis ter filhos. Um dia acordei com o pé esquerdo, e de repente a semana toda eu via um gato preto, e ele me seguiu por meses e meses e bimestres, até que eu quebrei um espelho. Perdi o emprego, a mulher e o ânimo. Voltei a fumar, me afastei de todo amigo ou conhecido. No meu aniversário não recebi nem cartão de loja. Mesmo porque não tenho mais casa, tô só por ai, andando, pensando, fumando...Cantei parabéns em silêncio enquanto tentava trocar a lâmpada da minha última fé, e buscava com toda força alguma coisa que me fizesse voltar a sentir alguma coisa. Vi o mundo em preto e branco, em cinza,
E passaram minutos, até que tudo que me distinguia de estar vivo ou morto era o cheiro daquela cerveja quente e barata na minha frente, e do meu suor misturado com a gordura frita dos salgados que o dono fritava do lado de dentro. E tudo era horrível, e eu quis muito, juro, quase cheguei a tirar a mão dos olhos e pô-la no nariz e me tirar daquela mistura nojenta de imagens e cheiros e sons que eu não queria viver, que eu não queria sentir. Me desculpa, eu não sei se ainda tenho aquela nossa antiga intimidade pra ir falando das coisas assim do jeito que eu tô fazendo, meio desesperado, meio afobado, mais eu acho que você entende né? Vim de tão longe, não por saudade, mais tenho que te explicar... Ou nem tenho se não quisesse, mais é que, sei lá, às vezes me vem a sensação de que quando acontece essas coisas loucas que nem a gente sabe explicar é sempre bom ter alguém do lado pra contar, né? Porque senão você acha que ficou doido e começa a inventar as coisas sozinho...Mais então, é que, no meio disso tudo, dessa merda toda, eu senti um cheiro muito forte, doeu minha cabeça lá no fundo, me arrepiei todo, me deu aqueles apertos que a gente tem quando ta pra descer a montanha russa sabe? Era um cheiro esquisito, e no começo eu não me lembrava de nada que existisse pra poder associar. Abri meus olhos pra procurar e não vi nada, nada forte e nada doce e nada meio cítrico e meio louco que pudesse me contar de onde vinha aquele cheiro. E o mais pirado é que eu cheguei a ver por um instante um rastro no ar, meio que uma fumaça, só que de outra cor...E você vai achar mesmo que eu tô louco, mais te juro que não sei explicar que cor era aquela. Era que nem o cheiro, uma mistura, irisada, um pouco de tudo, um pouco completo, intenso, mais suave, sutil.
Levantei do balcão, e adivinha? Coloquei o pé direito primeiro no chão! E ai que vem...lembrei de você. Lembrei porque tinha alguma coisa naquela cor estranha, alguma coisa naquele cheiro, que me trazia você. E não, não, eu não senti saudades. Pelo menos não de você, entenda. Mais ai veio o porquê de eu vir aqui, voltar aqui...
Mais acontece que quando eu cheguei, quando bati na tua porta, já não sentia mais o cheiro, não via nada. Quase virei as costas e fui embora, achando que você não ia abrir, ou, sei lá. Daí te vi, e desculpa não saber contar direito como era o cheiro e a cor e a fumaça, mais é que eu não lembro. Coisa mais difícil é lembrar de cheiro, né? A gente sente, gosta ou não gosta, e quando passa não dá pra lembrar, escrever, contar...- e a voz de Luis ia ficando mais fraca a medida que escutava o que proferia.
Letícia agora enrolara seus cabelos num rabo mal feito, pro lado, todo imperfeito e bagunçado. Segurava suas pernas e cantarolava uma musica baixinho, uma sequencia que tinha surgido do nada, como se entrasse em seu corpo junto com todo o incenso queimado. Seu olhar desviava e nadava por entre aquele mar que afogava o ambiente. O silêncio de Luis a tocava como nenhuma de seus abraços jamais havia o feito. Levantou seu olhar tímido em direção a estrada reta e profunda que o olhar dele lançava em sua direção.
- Não senti sua falta também, Luis. Te sinto agora.- suas mãos agora soltas se paralisaram encostadas sobre a cama.
Ele levantou-se e perto dela, a centímetros de distância, seus olhos choveram lágrimas. Quietas. O ar conduzira a mão de Letícia, que da inércia se projetara sobre as dele, apertando-as forte. Se juntaram, se abraçaram e choraram juntos, choveram juntos.
- Não sinto amor, sinto você, e quando você estava longe eu não te sentia, não te cheirava, te via, te escutava, te tocava, e você foi parecendo cada vez mais ilusão, cada vez mais esfumaçada na minha memória.
Os pensamentos de Luis iam se multiplicando e iam sendo absorvidos como quando se acende a luz num quarto escuro, como quando se vira a esquina e o acidente acontece, como quando se lê um poema e te sente personagem. Ele entendeu que quando não sentia Letícia, não sentia vida. Mesmo tendo até chegado a sentir, tudo havia passado, tudo tinha se esvaído futilmente. Sentia culpa, culpa por ter ido embora, e alivio por se sentir em casa, se sentir vendo e sentindo e cheirando e ouvindo tudo que cabia nele de verdade, tudo que o coloria.
O quarto refletia cores que coloriam a nuvem no quarto que ia cada vez mais se parecendo com algo concreto. O cheiro de lírios do incenso ia perfumando seus últimos milímetros de ar, enquanto Luis e Letícia se envolviam num abraço que não parecia ter fim e nem cansaço.
O dia amanhecia.
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
...
Andei até uma mulher de longos cabelos ruivos e olhos azuis. Parei ao seu lado como se ouvisse o que ela gritava. Ela me olhou, ofendida. Seus olhos se fundiram em lágrimas e engasgada me disse “O que faz aqui?”. E de repente eu já não a via, os seus medos eu já não conseguia mais ouvir e aquela frase entrou consciente em meus neurônios conscientes e me fez sorrir. Foquei em seus olhos perdidos de novo, puxei-a pela mão e corri para as escadas que parávamos em frente.
Ela me seguia, carregando aqueles olhos curiosos. Subimos tanto que sua respiração quis falhar. Seus olhos alegres piscavam sem ritmo. De lá de cima ela via o céu azul límpido. Eu via seus olhos tristes. E a cada pássaro que voava sobre nossas cabeças eu via seus olhos mudarem de modo, de cor e de palavras.
E então passou um bando de andorinhas e eu entendi. Eu vi tudo dentro daqueles olhos, e a sua eternidade imensamente perturbadora me fez entender cada pequeno tudo dentro de mim e dentro da vida grande que me rodeava, me tocava, me cheirava, me sentia, me afogava.
Soltei sua mão e lhe disse com toda a verdade dentro de mim “Lindos olhos.”. O segundo que antecedeu seu sorriso me contou todos os adjetivos que eu iria sentir em meu futuro. E assim aconteceu. Seu sorriso brilhante me despediu daquela imensidão de mundos e me levou de volta às minhas linhas em branco.
Corri até o fim do prédio e o começo do céu. Corri até o começo de um beija-flor e o fim das asas. Corri até o começo da distância e o fim do tempo. Corri para dentro. Corri demais. Ele conseguiu, pensei, enquanto corria pouco, só se esqueceu que homens perfeitos não precisam existir. Voei.
segunda-feira, 20 de abril de 2009
"Abrace sua loucura antes que seja tarde demais"
domingo, 12 de abril de 2009
Limite
O vácuo entre esses dois espaços e tempos é muito abismático, asmático, ensurdecedor. Afoga, aperta, machuca e questiona o sentido da melodia que eles tocam quando se encontram por inteiro.
Nem todo dia somos inteiros.
quarta-feira, 8 de abril de 2009
terça-feira, 21 de outubro de 2008
Lado
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
Mais uma de você
Veio de fora, entrou em mim e completou matematicamente uma parte que não precisava de complemento certo, que só precisava de algum. Ou talvez até nem precisasse. Mais foi ela que levou minha necessidade embora.
E agora ela já não existe visivelmente para mim. Existe por dentro, nas minhas veias, no vai e vem de todos que moram dentro de mim, nos meus pensamentos que esbarram suas arestas pelos seus morangos, nas correntes de água que entram agitadas tentando levar embora qualquer forma errada. Nas correntes de sorrisos que ficaram gravados e que superam a dor quando não ha rostos. Mais o que é a dor? O que são sorrisos? O que são rostos? Não vejo nenhuma dessas três palavras verdadeiramente presentes agora. Apenas sinto o esboço da uma lembrança de alguma coisa, que mais faz ter a certeza de estar escrevendo sobre três coisas que existem.
Mais o que é existir? Minha tortilha, vermelha castanha e branca, pastosa e crocante, adocicada e levemente ácida, existia em minha frente, privou minha visão e alimentou viciosamente minha imaginação incansável quando entrou dentro de mim, e agora é o que? Agora ela é eu?
Mais quem sou eu?
Sou eu, ela? Sou eu, os sorrisos? Sou eu, as dores, os rostos?
Assim acho que não há pecado se eu me sentir um pouquinho você. Você que me deixou por fora e que só fez minha fome de querer saber os porquês das coisas serem como são aumentar...E agora entendo que as coisas são como são, porque eu sou como sou. E que na verdade, ninguém é inteiramente, porque ninguém é o que os outros são. Pelo menos não totalmente. Só uma pequena parte, um pequeno sentimento comum, uma pequena palavra com o mesmo sentido, uma cor com a mesma cor que dois olhos veem. Tão raro isso, ser igual por dentro. E é isso que liga algumas pessoas a algumas pessoas. Será? A força calada e inexpresível de um sentir/pensar gêmeo, que não atrai, mais mantêm...E ai, nossa preguiça vai e joga seu pozinho, afim de não querermos pensar e conversar e entender, que a gente vai aprendendo a ser só a gente, esquecendo que a gente só vai ser alguma coisa de verdade quando a gente for todo mundo.
Você me deixou por fora. Por dentro alguma coisa muito parecida com você e comigo, e com a gente, ainda pulsa, corre, nada, nas veias, nos músculos, na água do meu sangue. Ou talvez não, quem sou eu pra explicar as razões do seu eu dentro de mim não ter ido embora?
Quem sou eu pra dizer que alguma coisa vai embora...
sexta-feira, 25 de julho de 2008
contigo
Não quero que eu esteja em você, por mérito dos meus pensamentos. Quero estar ai porque você quis, e por nada mais. E se você quiser, se só por um segundo o teu sentimento dar as mãos com o meu e eles se casarem porque se descobriram irmãos demais, eu vou prai. Eu vou e, se você quiser, eu fico todo dia. Fico até que o sentido se perca e não queira mais ter vontade de existir. E se você quiser, eu espero. Espero até que o nada que nasceu da morte do sentido seja mãe de uma nova sintonia, de um novo sentimento. E se ainda existir um pouquinho de amor, e se você quiser, eu prometo que não vou embora nunca mais.