sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Time to change.

Um escritor famoso me desejou o esquecimento como presente de ano novo. E por um período considerável de tempo eu me peguei contestando isso. Contestando o porquê de esquecermos as coisas se são elas que afinal constroem a nossa vida.E dai fui eu me lembrar. Me lembrei da infância, das bolachas, dos desenhos animados, dos domingos, das brincadeiras, dos amigos...Senti uma saudade quando eu vi que antes era tudo tão mais fácil, tudo mais divertido, e se não era, pelo menos eu me importava menos, eu vivia mais.Minha memória seletivamente pulou para alguns anos atrás. Os amigos que hoje são estranhos, as palavras que hoje não passam de rabiscos, as fotos que hoje levaram consigo um laço de amor invisível. Me lembro de pessoas que passaram por mim e que não fazem uma nítida idéia de quanto são, ou foram, essenciais na construção da minha historia, de quem eu sou hoje. Me lembro de quem nem lembra mais de mim. Me lembro de palavras ditas ao acaso, que por vezes me confortam de uma insônia incômoda. Me lembro de tanta coisa e ao mesmo tempo me lembro de tão pouca coisa... onde será que ficou guardado a lembrança de um sábado chuvoso e sem graça, onde eu não fiz nada de especial, não conheci ninguém especial e não li nada de importante?E por que esse sábado foi menos importante pra não ser lembrado? Só os grandes momentos vão ficar indo e vindo quando eu chamar pelo passado?Não, não...ele continua aqui, guardado. Talvez ele não seja lembrado por mim toda hora, mais com certeza estará dentro de mim toda hora. Como prova de um passado, como prova de um presente, como um capítulo, um caminho de uma história.Penso, com um pouco de medo, confesso, o que será das fotos que eu tirei hoje com os amigos que eu queria sempre do meu lado. Me pergunto quais desses juramentos vão virar palavras sem sentido, quais desses melhores amigos vão se tornar estranhos, e principalmente, quais dessas memórias eu vou me lembrar.Fazemos hoje os filmes de nostalgia de amanha.E quando gastamos tempo lembrando o passado, o presente deixa de ser vivido e consequentemente o futuro vai ter uma lembrança a menos.Ele estava certo. O esquecimento, não completo, temporário, é o presente que deveríamos desejar pra todos. Como sinal de 'liberte-se de ontem e viva o hoje'.E agora eu percebo de quais tipos de esquecimento ele também se referia. O passado que doeu, fez sofrer, mais que fez crescer. Mais é como um livro, um capítulo que foi importante pra revelação no final não precisa ser relido uma vez que a pessoa já entendeu a essência e o sentido da sua existência ali. Portanto, o que passou, passou e sem aquilo definitivamente você não seria quem você é hoje. Não do mesmo jeito.E então, que o esquecimento tome conte das nossas cabeças nesse novo ano e que novos e maravilhosos acontecimentos encham o nosso presente e façam o futuro com as melhores lembranças de hoje. E, se for evitável, não caia na rotina. Faça com que cada dia tenha a sua própria cor e que brilhe mesmo com os menores acontecimentos, porque afinal eles são o caminho para os grandes...

3 comentários:

Leozoide disse...

Fato é que ficaríamos loucos se tudo o q vivemos ou soubemos algum dia ficasse arquivado na memória [além de n ter espaço...]. Mas, afinal, n nos atermos ao passado nos torna pessoas mais fortes e menos tendenciosas. Tentar fugir da rotina assim como das tendencias q nos tornam piores...

Prazer, léo, apreciador de boa poesia e filosofia... amigo da mari ciabotti...
textos simplesmente incríveis

bibi disse...

Voltei com o blog! 'i wish i was your favorite smile'... Kate Nash?

Unknown disse...

Ju, você escreve incrivelmente bem.
Suas palavras mesmo não harmoniosas, como você disse, são de tocar. Espero que você continue escrevendo.. abusando do seu dom

vou fingindo ser o que eu já sou

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"O melhor drama está no espectador e não no palco."